terça-feira, 4 de maio de 2010

Factores etiológicos das dificuldades de aprendizagem

Salientam-se os factores genéticos, os factores pré, péri e pós-natais e os factores neurobiológicos e neirofisiológicos como possíveis causas das Dificuldades de Aprendizagem:

 Factores genéticos:
O meio social pode actuar como facilitador do desenvolvimento, porém, a aprendizagem também é parcialmente herdada geneticamente. Para a reeducação das dificuldades de aprendizagem a contribuição genética para análise é indispensável. Assim, estes são factores ligados directa ou indirectamente aos efeitos dos genes, tendo em visto que o potencial de aprendizagem também é parcialmente herdado (verificação de todo e qualquer aspecto congénito que pode estar a interferir na dificuldade de aprendizagem).
Estudos comprovam um alto grau de agregação familiar reforça a influência genética das dificuldades de aprendizagem em vários casos, não deixando dúvidas de que a transmissão biológica dessa condição pode acontecer.

 Factores pré, peri e pós-natais:
Crianças cujas mães tiveram complicações na gravidez, no parto ou nasceram prematuras, aumentam a possibilidade de desenvolvimento de algum tipo de Dificuldades de Aprendizagem. Entre estes factores podemos citar: anoxia, prematuridade, condições maternas adversas tais como a diabetes, a anemia, o parto prolongado, eclampsia (manifestação da toxemia, uma hipertensão induzida pela gravidez). A toxemia é uma doença grave que se manifesta em geral na última metade da gravidez. Caracteriza-se por hipertensão, edema e proteinúria.

 Factores Neurobiológicos e Neurofisiológicos:
Considerando que a aprendizagem depende da organização neurológica do cérebro e sabendo que tal função depende dos factores genéticos é compreensível que alguns factores bioetiológicos sejam de natureza neurobiológica e neurofisiológica. Muitas crianças com dificuldades de aprendizagem não apresentam lesões no cérebro porém, a maioria as evidenciam.
Até aos três anos de idade, o cérebro aprende as aquisições mais cruciais que perduraram por toda a vida. A deficiência proteica pode nessa fase deixar rastros de perturbação tónica, falta de atenção, problemas de motricidade, hiperirritabilidade, instabilidade emocional e outros.
A maturação consiste nas trocas qualitativas, através do aparecimento de novas estruturas e funções.
Das estruturas que compõem o sistema nervoso, o mesencéfalo e a medula já estão quase desenvolvidas por completo no nascimento, sendo responsáveis pelas tarefas que os recém-nascidos executam (atenção, habituação, sono, vigília, eliminação e movimento da cabeça e pescoço). Já o córtex, responsável pela percepção, o movimento corporal, o pensamento e a linguagem, é a parte menos desenvolvida nos neonatos. Além disso, quase todos os neurónios e células gliais, tipos celulares básicos, também já estão presentes nos recém-nascidos. O desenvolvimento pós-natal proporciona-lhes, fundamentalmente, o desenvolvimento das sinapses e por consequência o crescimento das dendrites e dos axónios a nível do córtex. Este processo acontece, principalmente, até os dois anos de idade.
Há, portanto, uma reorganização neurológica em vários momentos do desenvolvimento, sendo resultado de experiências específicas, aquisição de novas habilidades, durante toda a vida.
As sinapses são fundamentais à aprendizagem humana, já que se constituem na conexão nervosa via impulso ou estímulo nervoso. O impulso pode ser transmitido de uma fibra nervosa para outra fibra nervosa ou de uma fibra nervosa para uma fibra muscular. Desta forma, uma fibra eferente ou motora conduzirá o estímulo a um músculo esquelético ou estriado, enquanto que a fibra aferente ou sensitiva conduzirá o estímulo ao sistema nervoso central. É então através das sinapses que o sistema nervoso envia informações a respeito dos músculos, dos tendões e das sensações corporais. A esse tipo de informação chama-se de cinestesia, essencial para o conhecimento corporal e para o movimento corporal.
A maturação do sistema nervoso é um processo fundamental para o desenvolvimento dos seres humanos principalmente graças ao aumento da bainha de mielina, membrana que reveste o axónio dos neurónios, aumentando a velocidade com que o estímulo nervoso é conduzido de um neurónio para outro. Esse processo é chamado de mielinização. À medida que a mielinização vai acontecendo, seguindo as leis céfalo-caudal e próximo-distal, a criança vai sendo capaz de controlar o seu próprio corpo e os seus movimentos, completando-se na adolescência. Através do desenvolvimento da mielina torna-se evidente que a maior velocidade de comunicação entre os centros de decisão e os centros de execução tem grande importância para a coordenação e respectivo controlo muscular.
Assim, é devido à maturação do sistema nervoso que obtemos as informações precisas acerca do mundo externo e interno, facto essencial à sobrevivência e aprendizagem humanas.
De todos os elementos que compõem o sistema nervoso, o córtex cerebral é um dos mais importantes, tornando a sua maturação um processo indispensável ao homem, onde chegam os impulsos provenientes de todas as vias sensitivas e onde são interpretadas. Do córtex saem os impulsos nervosos que iniciam e comandam os movimentos voluntários e com ele estão relacionados os fenómenos psíquicos.
O neuropsicólogo Lúria (1977) propõe uma divisão funcional do córtex fundamentada no grau de relação com a motricidade, com a cognição e com a sensibilidade. As áreas directamente ligadas à sensibilidade e à motricidade, áreas de projecção, são chamadas de áreas primárias. As áreas de associação são divididas em secundárias e terciárias. As áreas secundárias ou unimodais são as que se relacionam indirectamente com uma determinada modalidade sensorial ou motora. As áreas terciárias ou supramodais são as que se relacionam com as actividades psíquicas superiores.
A imaturidade inicial do sistema nervoso manifesta-se na impossibilidade da criança pequena organizar as suas respostas de modo intencional. As vias aferentes estão mielinizadas e recebem a informação perceptual mas as vias eferentes não, devido a isto a criança não está em condições de organizar sua resposta. O córtex cerebral, é o local onde se localizam as funções superiores, e encontra-se bastante rudimentar na criança pequena, com isto, durante os primeiros meses e anos de vida, algumas células corticais novas são acrescentadas, as células ficam maiores e as já existentes estabelecem mais conexões entre si, deixando o cérebro mais pesado.

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